É engraçado como descrevemos
alguns momentos muito bons como sendo os melhores. Quando eu era pequena, tinha
um diário, assim como toda garota, acredito eu. Agora se eu for lê-lo, além de
dar muita risada com os meus segredos, sobre os “amores da minha vida”, sobre
as minhas “melhores amigas para sempre”, e claro, sobre os tantos erros de
português, percebo que quase todos os dias eram os “melhores dias da minha
vida”.
E os motivos eram muito
simples e inocentes. “Querido diário, hoje foi o melhor dia da minha vida
porque me diverti muito brincando com minhas primas” “Querido diário, hoje foi
o melhor dia da minha vida porque dei voltas de moto com o meu tio” “...porque
ajudei a vó a fazer bolachas de natal” “...porque a professora colocou eu e
aquele menino pra sentarmos juntos na sala” “...porque a professora de
português leu o meu texto na sala”.
Eu sei, dá muita vontade de
rir, e isso que me lembro de pouquíssimas coisas, o original é muito mais
engraçado, pode crer! Mas o que quero dizer com isso, é como eu ficava feliz
com o que parece ser tão pouco, e acreditava que aquilo teria feito o meu dia,
ser o melhor da minha vida.
Mas depois que crescemos, ficamos
chatos e exigentes. Não nos contentamos mais com quase nada, um dia que antes
poderia ser sensacional, passa a ser apenas um dia normal. E vai piorando.
E aí chega uma hora, que temos
uma crise existencial, de identidade, de idade, de personalidade, de amizade, de
confiança, ou do que quer que seja e do que quer que você queira chamar, e
começamos a querer mudar tudo, a “correr atrás da felicidade”.
“Eu não estou feliz assim, não
estou feliz aqui neste lugar, não estou feliz com você, não estou feliz com meu
peso, não estou feliz com meu cabelo” etc.
Quantas vezes eu reclamo de
tanta coisa besta. Aí é que está. Ás vezes estamos TÃO ocupados e obcecados
nessa onda da procura da felicidade que também pode ser entendida como a
onda da obrigação de mostrar a sua felicidade para os outros que fechamos
nossos olhos para o que realmente poderia estar nos fazendo felizes.
Eu já vim pra Dublin em
“processo de mudança”. E Dublin tem me feito muito bem. Eu sinto que aqui é meu
lugar, pelo menos agora. Mas eu não vim aberta à felicidade, eu cheguei
tentando procurar uma cura, um cicatrizante. Não é que não fosse feliz. Mas
ainda estava naquela infindável e decepcionante busca.
Pois quando meu amigo me disse
isso, eu parei e pensei: eu realmente estou vivendo o tempo mais feliz da minha
vida. Claro, um dos mais felizes. Mas, AGORA, tem sido o melhor mesmo. Tem
feito muito bem pra mim. E eu tenho voltado a ser aquela criança que se
contenta com tudo. Com os detalhes, simples e inocentes.
Quando chove aqui que é bem
frequente, por sinal é o “melhor dia da minha vida”. Quando faz sol, “é o
melhor dia da minha vida”. Quando saio com meus amigos, que aliás, SÃO AMIGOS
SENSACIONAIS, é o melhor dia... quando alguém sorri, quando eu rio não só de doer
a barriga, mas também de dar vontade de fazer xixi (sim. Mas eu me seguro ok),
quando exageramos na quantidade de comida outra coisa bem frequente,
quando ficamos jogando cartas até as 3 da manhã, e até quando não fazemos nada
da vida... eu me sinto feliz. Por mais que não pareça... porque eu sei que ainda
passo a imagem de dark e depressiva pra muita gente, mas eu estou fazendo
esse ser o pouco tempo mais feliz da minha vida. Abri meus olhos outra vez.
Não tenho duvidas de que estou
fazendo valer a pena. A única coisa que tem me deixado triste, é saber que cada
dia que passa, é um dia a menos para ficar aqui.
Nem mesmo a saudade me
entristece. Eu acho que o fato de eu me sentir tão bem aqui, recompensa. E com
certeza as pessoas tem recompensado muito também. Ninguém substitui ninguém,
mas toda a amizade, o companheirismo, o cuidado, o amor e a “broderagem” que encontrei
por aqui tem preenchido falta de mãe, de pai, de irmã, de vó, de primo, de tia...
o que com certeza tem grande porcentagem nesse “me sentir tão bem aqui”.
Só realmente espero que eu
consiga sempre sentir esse gostinho de infância, de ser criança e de dar valor
aos menores, mais simples e às vezes aos mais “idiotas” momentos, e perceber o
QUANTO eles podem me trazer
felicidade.
Um pouco disso também se deve
ao “sair da rotina”, que está mais para “sair da realidade”. Ao “tirar as
adagas da frente e criar seu próprio ‘final’ feliz”. Que na verdade de final
não tem nada né...
Mas pra resumir, e pra você
finalmente entender o que eu estou tentando dizer, aprenda a ser feliz com
os detalhes, pois, independente do tempo que durar... terá valido a pena! E
todo dia poderá ser “o melhor dia da sua vida”.