Há alguns sentimentos que se
tornam intocáveis para nós. Intocáveis, pois doem demais ao mais simples toque.
Então nós os guardamos, trancamos, reprimimos. Mas eles estão guardados assim:
como quando você era criança e prometia guardar seus brinquedos antes de sua mãe
chegar... e já estava quase na hora e você não tinha guardado nada, então você
jogava, empilhava, empurrava todos eles dentro do armário e tinha até que
forçar a porta para fechar... e assim que você abria-a, não um nem dois, mas
todos os brinquedos caiam em cima de você. Porque você só escondeu a sua
bagunça.
Acho que assim acontece com
alguns sentimentos, pelo menos pra mim. Estão intocáveis, eu não penso neles,
não revivo-os, às vezes nem lembro que eles existem. Mas sim, ali eles estão,
apenas escondidos, esperando alguém abrir a porta para que eles possam
despencar.
Essa imagem, essa frase,
abriram a porta do meu armário.
Isso não é indireta, não é
falar por entre linhas... quem sabe, sabe, e vai entender. Também não é nenhum
segredo... E já que foi mexido, agora eu vou falar sobre isso.
“Ás vezes o amor não é o
suficiente para duas pessoas que se amam ficarem juntas”
Lembro-me de quantas vezes eu
falei sobre isso. “Amor só não segura!”
É engraçado. O amor deveria
ser tudo. Por isso que dizem para não deixar tudo por amor... Porque no fim o
amor não vai ser tudo pra você. Não estou falando da pessoa, estou falando do
sentimento mesmo. É difícil entender como que o amor por si só não é o suficiente.
Eu acredito que nunca faltou amor.
E pelo menos em mim tinha de sobra, tinha demais, transbordava. Vai me dizer
que foi esse o problema?
Não sei...
Já parei de tentar decifrar,
de tentar entender O QUE EXATAMENTE aconteceu. Sim, muitas coisas, muitas
razões ficaram bem claras.... Mas e aquela coisa que você percebe que está
estranha, está errada... mas releva. E vai relevando, relevando, e a coisa vai
aumentando. Não é só a mentira
que funciona como uma bola de neve. O que reprimimos também.
que funciona como uma bola de neve. O que reprimimos também.
Você finalmente resolve
falar... e às vezes ouvindo a si próprio se sente ridículo, exagerado.
Mas ainda assim.. algo não
está certo.
Mas tudo bem, vamos lá, vamos
continuar, vamos empurrar com a barriga, porque amor tem de sobra!
Eu não quero culpa-lo e nem
sair ilesa. Acredito realmente que a culpa não foi de ninguém e foi dos dois ao
mesmo tempo. Ou foi da distancia. É mais fácil né... colocar a culpa no que nos
separava.
Desisto de tentar entender...
já repassei todas as histórias na minha cabeça vezes e vezes, todos os
possíveis motivos, e não consigo encontrar. Não consigo encontrar o motivo, não
consigo encontrar uma possível falha, não consigo encontrar uma falta de
interesse. Só sei que em algum momento nós seguimos e deixamos uma peça para
trás. Consequentemente... com a falta dessa peça todo o resto desmoronou.
E aí você sofre, você chora,
você chora tanto que não consegue respirar. É justo a sensação que eu mais
gosto quando eu dou risada, mas é a mais triste quando eu choro. Esse é o choro
mais triste, na minha opinião. Um choro desesperado. Cheio de dor. Você
adormece chorando por várias noites, e em posição fetal, procurando algum
conforto.
E aí um dia... você levanta.
Você vê sua cara inchada no espelho e você começa a rir. Se sente ridículo. Cansa
de chorar. Ainda dói, mas você não quer mais ceder. Você sabe que você tem que
seguir, e você jura pra você mesmo que isso não é mais forte que você. Claro
que é!
E então você reprime. Engole.
Esconde. Guarda tudo dentro do armário. Varre pra baixo do tapete. Constrói
barreiras, e realmente acredita estar protegido.
E segue. Quando te perguntam,
você diz que está bem, e sim, você realmente acredita estar bem. E claro que
você está, porque não tocou mais naquilo. Você finge (e acredita) que aquilo
não existe mais.
Até que, alguém “abre a maldita
porta do armário”. E eles vem como uma avalanche. Derrubando suas barreiras. E
não só faz você tocar nesses sentimentos, mas faz você dar de cara com eles.
Violentamente. E a dor volta com tudo. Teus pensamentos voltam, e você começa a
se fazer todas as perguntas novamente.
“Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaara
de pensar em coisa que te leva pra baixo!!” – Diz seu melhor amigo....
“Jogue essa ancora fora. Pule
no rio, saia correndo na chuva... distraia-se!
Por mais que pareça que essa
angustia vai te matar... ela vai passar.
Às vezes nós percebemos que
não conseguimos mais ser fortes. E aí nos permitimos ser fracos. Mas é para
crescermos e nos tornarmos mais fortes. Soa bonito... mas é realmente terrível
de se viver.
[...] Dói quando você toca,
porque você ainda não lavou toda a sujeira e nem arrumou toda a bagunça que ele
deixou em seu coração.”
E mesmo que você concorde,
você continua pressionando seu botão de auto-destruição. Aliás, você “soca”
esse botão. Até ele arrebentar e saltar pra fora. Ou... até ele afundar no
controle.
E você entra naqueeeela depressão.
No meu caso, eu gosto de dizer: na fase do moletom. Ficar um dia inteiro em
casa, assistindo algum seriado, dramático de preferência, usando um moletom
velho e não levantar pra nada. Sem lágrimas. Só me afundando em mais drama, em
drama fictício, pois é mais fácil de encarar do que ao meu próprio...
Então você percebe... que está
fazendo tudo de novo. Está tentando fechar a porta com os brinquedos todos
bagunçados de novo. Só parece ser mais fácil, mas na verdade é uma tortura.
Você fica mal, fica deprê, e vai guardando os sentimentos, vai escondendo, vai
esquecendo. Aí você fica bem, começa a rir de tudo (aquele rir pra não chorar),
até que você realmente ri, não só para esconder algo de si mesmo. Você
realmente fica bem. Para de repente ver alguma imagem que vai te fazer viver
isso tudo de novo. É um ciclo, mas um ciclo muito doloroso. A dor nunca vai
passar, ela só da um tempo, mas sempre volta. Quem consegue viver assim?
Então você percebe... que
talvez o melhor seja tocar, cutucar, mexer em tudo de uma vez. “Abraçar a
ancora” e sofrer. Sofrer muito, que seja, mas sofra! Chore, grite, fique um dia
inteiro sozinho se for preciso. Mas viva, viva intensamente até a sua dor!
Eu sei.. não estou falando
isso pra ninguém, eu falo é pra mim mesma. Por mais que isso pareça loucura...
mas eu sempre fui intensa. Em tudo. Então porque não ser na dor? Eu já havia
percebido isso, é óbvio, o problema é que na hora de aguentar a dor... o normal
é procurar alguma forma que não doer tanto.
Eu fiz isso. Eu escondi tudo. Mas
o único jeito de fazer passar, o único jeito de me libertar disso é vivendo
isso. Juntando-se a dor. Cutucando a ferida, pois só assim eu vou conseguir lutar
contra ela. Isso funciona pra mim, eu não sei pra vocês, mas eu não quero que
passem anos e eu ainda sofra com isso. Que eu ainda sonhe e me lembre e sinta
vontade de chorar por algo que acabou mesmo que o amor não tivesse morrido!
Eu escondi tanto isso, que eu
nem mesmo sei mais o que sinto, não sei se amo, se sinto falta, se foi melhor
assim... e acho que o único jeito de descobrir (e de “resolver”) é tocando.
Vivendo.
Não estou dizendo que vou
ficar chorando pelos cantos todos os dias. Eu só não vou soltar dessa ancora
ainda. Se eu soltar agora será pra sempre um “assunto não resolvido”... Eu não
vou mais fingir e acreditar que isso não me afeta mais. Que já passou.
Sei que vai doer... mas é
melhor que doa assim, tudo de uma vez, do que fique doendo de tempos em tempos,
de nível em nível.
Sei que muitos irão discordar.
Mas chega de camuflar a dor. Isso também estava virando uma bola de neve.
Acho que agora eu vou deixar a
porta do armário sempre aberta e a bagunça espalhada no chão. E vou lidando com
ela, conforme eu aguento, mas sem esconder, sem fingir que não está mais ali.
Assim fica mais fácil definir qual brinquedo eu devo jogar fora, e qual eu devo
guardar. Para que quando a porta for aberta... nenhum despenque sobre mim. E
que eu possa olhá-los e sorrir pelas lembranças, pelos momentos bons que cada
um desses brinquedos significa pra mim!
Escrever sobre isso, foi meu
primeiro passo...